Desafios à inclusão digital
por
Isaías Batista Rocha
A educação nos dias de hoje exige profissionais que sejam bem mais que meros reprodutores do saber meros “lecionadores”. Com o avanço tecnológico provocado pela Terceira Revolução Industrial o uso das TICs vem sendo incorporada lentamente em vários segmentos da sociedade e não poderia ser diferente na escola. Dessa forma não cabe mais pensar em uma escola onde o ensino e aprendizagem se faça meramente com quadro e giz. É necessário muito mais do que isso para atingir o nosso aluno que convive diariamente com a tecnologia. Mas como estimular a aprendizagem do aluno se o professor ainda não se apossou dessas novas tecnologias de comunicação e informação? É papel do educador levar seus alunos a pensar e repensar o mundo em que vivem, tornando-os mais críticos e participativos. O docente deve abrir caminhos para que o aluno desenvolvam suas habilidades e competências. O professor deste novo milênio deve ser uma bússola que oriente seus alunos a achar o seu norte dando a direção certa a seguir. Porém para concretização destas mudanças o professor deve quebrar velhos paradigmas e deixar de ser mero transmissor do conhecimento. Ele precisa ir mais longe. Sendo assim as TICs servem como instrumento facilitador na absorção do conhecimento e não meramente da informação Os nossos alunos vivem e respiram tecnologia, os que ainda não tem acesso sem dúvida alguma sonham em ter. Então, como atingir esse aluno se vários dos nossos educadores ainda não dominam esse segmento ou muitas vezes se tornam resistentes a essas mudanças, porque tem medo no novo, medo de se arriscar. "Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos." (Moran, 2001) “É importante salientar, porém, que não é o ambiente em si próprio que determina a interatividade, mas os atores que fazem parte desse cenário, objetivando a construção do conhecimento, de forma colaborativa.”( Marise Brandão 2010) Freire (2003) diz: "o ensinar inexiste sem aprender e vice-versa" Se o professor não estiver disposto a aprender como poderá ensinar? É a partir dessa dinâmica, aprender a ensinar e vice versa, e que os educadores se modificam continuamente em sujeitos autores e construtores dos seus saberes. Por isso, "ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção". Como diz Marise Brandão: “A aprendizagem colaborativa é um processo importante para o compartilhamento de um objetivo comum, e sua metodologia envolve a interação, que deve romper a lógica de ensino tradicional para uma prática mais inovadora, promovendo uma relação afetiva com o conhecimento, de forma reflexiva e mais autônoma.” Então quais seriam as perspectivas para a escola e o ensino no século XXI? ”. A palavra “perspectiva” vem do latim tardio“perspectivus”, que deriva de dois verbos: perspecto, que significa “olhar até o fim, examinar atentamente ” ; eperspicio, que significa“olhar através, ver bem, olhar atentamente, examinar com cuidado, reconhecer claramente”(Dicionário Escolar Latino-Português, de Ernesto Faria). A palavra “perspectiva” é rica de significações. Segundo o Dicionário de filosofia, do filósofo italiano Nicola Abbagnano, perspectiva seria “uma antecipação qualquer do futuro: projeto, esperança, ideal, ilusão, utopia. O termo exprime o mesmo conceito de possibilidade, mas de um ponto de vista mais genérico e que menos compromete, dado que podem aparecer como perspectivas coisas que não têm suficiente consistência para serem possibilidades autênticas”(Moacir Gadotti). Olhar atentamente, examinar com cuidado, é isso que o professor deve fazer em sua prática diária. Conceber a ideia que vale arriscar, buscar o novo,interagir. Desta forma, tanto alunos quantos professores e a sociedade de modo geral saem ganhando. Mesmo que pareça difícil, vale a pena busca o novo, pois se não fizermos assim, ficaremos obsoletos e desconectados a essa nova realidade que nos apresenta. É muito difícil nos aventurarmos no novo, nos desapegarmos do tradicional. Como previa McLuhan já em 1969 –, pelo menos na maioria das nações, a cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso intensivo da Internet(...). “Por isso, os jovens que ainda não internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital. Os que defendem a informatização da educação sustentam que é preciso mudar profundamente os métodos de ensino para reservar ao cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvolver a memória. Para ele, a função da escola será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens, inclusive a linguagem eletrônica.” (Moacir Gadotti ) Porém, o educador deve está ser perguntando: o que eu tenho haver com tudo isso? Na escola que leciono falta praticamente tudo o que dirá toda essa parafernália tecnológica? Ladislau Dowbor (1998), responde: “será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias.” Como previa Herbert McLuhan, o planeta tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. A busca da informação e do conhecimento extrapolaram as paredes da escola. Essa nova geração tecnológica chega à escola com uma bagagem extraordinária. E o que fazer com tudo isso? Fugir a essa ideia é uma grande erro. Tanto a escola como os professores devem encarar essa situação como forma de crescimento como um desafio a mais a ser ultrapassado. O educador não deve se intimidar com esses novos desafios, deve sim se preparar, buscar caminhos e ter a humildade de aprender com seu aluno se for necessário. Como diz Moacir Gadotti: “ Cabe a escola organizar um movimento global de renovação cultural, aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a empresa que está assumindo esse papel inovador. A escola não pode ficar a reboque das inovações tecnológicas. Ela precisa ser um centro de inovação. Temos uma tradição de dar pouca importância à educação tecnológica, a qual deveria começar já na educação infantil.” Ele ainda acrescenta que a escola deve servir de bússola, para orientar alunos a pensar criticamente a amadurecer e não embrutecer. Ladislau Dowbor (1998:259) diz, a escola deixará de ser “lecionadora” para ser“gestora do conhecimento”. Segundo o autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimento”.
Mas não basta modernizar apenas as escolas é preciso mais do que isso. Steve Jobs dizia: “ Eu acreditava que a tecnologia podia ajudar a educação. Mas tive de chegar à inevitável conclusão de que esse não é um problema que a tecnologia possa ter a esperança de resolver. O que há de errado com a educação não pode ser solucionado com a tecnologia”. O que se quer dizer com isso? Não basta modernizar as escolas com salas de informática de última geração, dar leptops ou tablets para todos os alunos e professores. Estas práticas, inclusive, já foram feitas em alguns países sem sucesso. O Ministério da Educação vai gastar 150 milhões de reais nesta ano, na distribuição de 600000 tablets a professores. Pergunta: Qual será o impacto efetivo sobre a qualidade do ensino com essa tecnologia? Muito mais que engenhocas tecnológicas o professor precisa de se sentir digno, valorizado. A distribuição de tablets puramente não vai alterar muito a qualidade de ensino nas escolas. Algumas experiências internacionais já foram realizadas na distribuição de tecnologia para alunos e o resultado não foi lá muito satisfatório. Os alunos estavam usando os computadores para colar em provas e baixar pornografia. Desta forma, precisamos fazer muito mais do que isso. Preparar os professores e auxiliar os alunos no uso das TICs é de fundamental importância se quisermos uma escola de qualidade. O uso de softwares tem mostrado resultados satisfatórios no ensino ena aprendizagem. Então capacitar professores na utilização de softwares educacionais é uma grande passo para se utilizar com responsabilidade as TCIs com um ganho na aprendizagem dos alunos. Conscientizar os alunos que a internet é muito mais que áreas de jogos e páginas de relacionamento também se torna um grande desafio para os professores deste século. Como diz Moacir Gadotti:“ A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazos, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação.Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos.”
Em fim diz Moacir Gadotti: “Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformama informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates.Eles fazem fluir o saber (não o dado, a informação e o puro conhecimento),porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis.”
JacquesDelors (1998), coordenador do “Relatório para a Unesco da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI”, no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta como principal consequência da sociedade do conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida (Lifelong Learning)fundada em quatro pilares que são ao mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação continuada. Esses pilares podem ser tomados também como bússola para nos orientar rumo ao futuro da educação.
“Aprender a conhecer – Prazer de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade, autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que aprender a aprender. Aprender mais linguagens e metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas “pensar pensamentos”, pensar o já dito, o já feito, reproduzir o pensamento. É preciso pensar também o novo,reinventar o pensar, pensar e reinventar o futuro.
Aprender a fazer – É indissociável do aprender a conhecer. A substituição de certas atividades humanas por máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje a competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que apura qualificação profissional. Hoje, o importante na formação do trabalhador,também do trabalhador em educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas universidades. Como as profissões evoluem muito rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para um trabalho.
Aprender a viver juntos – a viver com os outros. Compreender o outro, desenvolver a percepção da interdependência, da não-violência, administrar conflitos. Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa é a tendência. NoBrasil, como exemplo desta tendência, pode-se citar a inclusão de temas/eixostransversais (ética, ecologia, cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares e trabalho em projetos comuns. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(2) 2000-10
Aprender a ser – Desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação,criatividade, iniciativa. Para isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-matemática e linguística. Precisa ser integral.
Referências Bibliográficas
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed.Artes Médicas, 2000.
DOWBOR, L. A reprodução social. São Paulo, Vozes, 1998.
GADOTTI, M. Aprendendo e ensinando com as TICs. Rio de Janeiro, blog, 2010
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